.......Antigamente a felicidade era uma missão a ser cumprida, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros; a felicidade demandava "sacrifício"....... Hoje, a felicidade é uma obrigação de mercado. Ser deprimido não é mais "comercial". A infelicidade de hoje é dissimulada pela alegria obrigatória. É impossível ser feliz como nos comerciais de margarina, é impossível ser sexy como nos comerciais de cerveja. Essa "felicidade" infantil da mídia se dá num mundo cheio de tragédias sem solução, como uma Disneylândia cercada de homens-bomba.
A felicidade hoje é "não" ver. Felicidade é uma lista de negações. Não ter câncer, não ler jornal, não sofrer pelas desgraças, não olhar os meninos-malabaristas no sinal, não ter coração. O mundo está tão sujo e terrível que a proposta que se esconde sob a idéia de felicidade é ser um clone de si mesmo, um andróide sem sentimentos.
.........Há décadas, o precursor McLuhan falou que os meios de comunicação são extensões de nossos braços, olhos e ouvidos. Hoje, nós é que somos extensões das coisas....... Assim, como a mulher deseja ser um objeto de consumo, como um "avião", uma máquina peituda, bunduda, o homem quer ser uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente, e mais que tudo, um grande pênis voador.
A idéia de felicidade é ser desejado, é ser consumido, é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar um objeto de consumo.
..... Mas, onde anda hoje em dia essa pulsão chamada "amor"?..... Uma das marcas do século XXI é o fim da crença na plenitude, seja no sexo, no amor ou na política.......
Sem a promessa de eternidade, tudo vira um aventura. Em vez de felicidade, temos o gozo rápido do sexo ou o longo sofrimento gozoso do amor; só restaram as fortes emoçoes, a deliciosa dor, as lágrimas, motéis, perdas, retornos, desertos, luzes brilhantes ou mortiças, a chuva, o sol o nada...... Aí, a dor vem como prazer, a saudade como excitação, a parte como o todo, o instante como eterno.......
